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segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Sentido da Morte.

Por favor, dê o play e leia ! Obrigado!


Por Marcio H


Moro na Selva Amazônica, longe de tudo. Moro dentro de um pequeno quartel no noroeste do estado de Roraima, divisa com a Venezuela. Reserva Indígena Yanomami. O meio de transporte para a cidade mais próxima (Boa Vista + - 350 km) são as aeronaves. A cerca de um mês, meu vizinho e médico do pelotão foi socorrer um civil. Logo percebeu-se a necessidade de evacuação para melhores cuidados médicos em Boa Vista. O helicóptero que estava aqui foi usado nessa missão. Eles decolaram no final da tarde. Não chegaram a Boa Vista. Depois de três dias de buscas acharam o piloto e o paciente vivos. O médico, o enfermeiro e o mecânico estavam mortos.
Mas o que fica na memória é a fraqueza dessa vida. Naquele mesmo dia, eu tinha almoçado com o médico. Conversamos e rimos sobre coisas de TV, e filmes antigos que lembravam nossa adolescência, numa competição sadia de que quem lembrava mais e atiçava mais as lembranças boas daquelas épocas. Ele era meu vizinho e vendo-o arrumando seu quintal uma vez, eu me empolguei e comecei a arrumar o meu. Combinamos pegar terra para preparar a horta juntos. Carregamos algumas ferramentas, dividimos ideias de “plantações” amadoras e caseiras. Rimos várias vezes ao jogar War com nossos colegas aqui do pelotão. Antes das visitas de autoridades por aqui eu e ele chegamos a capinar terra, porque faltava gente. Essas pequenas coisas criaram uma ligação boa. Não fui o melhor amigo dele, nem ele o meu. Nem fui seu confidente. Nem nada disso. Fomos amigos. Grandes colegas de trabalho e vizinhos. E tudo isso durou apenas um mês e meio. Em apenas um mês e meio passamos por tudo isso. E ele se foi. Depois de saber de seu falecimento trágico (30 anos, recém formado em medicina, recém casado e estava longe da mulher a dois, três meses). E u me fiz várias perguntas. Fiquei num pequeno estado de choque, sem saber o que pensar direito, nem saber o que fazer, sem acreditar. Já fazia tempo que não via a morte de tão perto.
Pensei, se ele, um grande homem que conheci através de meu trabalho, morreu e eu fiquei assim, estupefato, imagine então, quando for para o outro lado  meus pais, as pessoas que amo, meus irmãos, meus grandes amigos, meus amados filhos...
A morte é sempre inexplicável e até não acho tão errado aqueles apaixonados por religião. Eles precisam amortecer a angústia da incerteza da morte com algo confortante. A morte de meu colega me fez rever várias coisas de minha vida, que sei que, infelizmente, voltarei a esquecer daqui a alguns meses quando sua morte se tornar passado. Mas agora escrevo que posso ser melhor, posso ser mais atencioso com coisas importantes e realmente cagar praquilo que não é. Posso dizer que com esta morte a praticidade esteja mais ainda em voga na vida deste virginiano. E digo a vocês, leitores, sejamos práticos nesta vida. Embora pareça ser clichê, quantas vezes não perdemos tempo com coisas banais!?
Nossa conversa sobre filmes adolescentes da década de 80 e 90 foi uma das últimas conversas da vida do Aspirante Nogueira, o médico.
Que tema terá minha última conversa!?

Marcio H.


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2 comentários:

  1. Bem emocionante essa verídica história.Essas coisas nos fazem refletir, pensar e nos confundir ainda mais sobre os mistérios da vida. Imaginar um começo sabendo logo existir um fim é uma coisa implicante que nos perturbam deixando-nos atordoados. Seria uma ótima se pelo menos a dor fosse mínima sei lá, o que acontece é que sempre tentamos ignorar a realidade e isso é que nos mantém de pé até a hora que não temos pra onde correr e seguir o natural vida... Irônico dizer, mas todos nós que acabamos de chegar logo vamos embora... Agora pra onde??? Leandro

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  2. é a vida é mesmo dificil de entender. li seu post meu nobre amigo e confesso q me impressionou. mas oq mais me chocou foi oq aconteceu a exatos 10 dias atras. uma garota q foi minha namorada no passado, uma moça alegre e cheia de vida sofreu uma tragedia parecida chocou-se de motocicleta contra uma carreta. aquilo me chocou muito. e fiquei triste pq eu fui saber disso quase uma semana depois e não pude nem sequer prestar um homenagem. é triste a gnt lembra de uma pessoa ou ver uma foto sua e saber q essa pessoa simplesmente não está mais entre nós. qntas palavras q ficaram para serem ditas algum dia e q nunca mais poderão ser ditas...isso causa uma sensação estranha q não da pra definir uma mistura de medo,desespero, tristeza. enfim a vida é essa, temos q aproveitar cada momento como se fosse o ultimo. pq o dia de amanhão não se sabe...

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