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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Coreanos, Testamentos, Liberdade e Covardia.

Por Marcio H.

(imagem de parte do testamento de Beethoven)

O impacto da morte é sobre aqueles que continuam a viver...

Vendo um programa, chamado TABU, no Nat Geo, que falava sobre morte, achei interessante uma coisa: na Coreia do Sul existe um recorde, o recorde de suicídios.

Eles dão tanta importância em pequenas coisas, em resultados, em complementos na vida que, quando se frustram, tiram suas próprias vidas.
Antagônico e estranho.
A Coreia do Sul pode ser considerado um país desenvolvido, tendo em vista fatores econômicos e financeiros. E por isso mesmo, ver uma situação dessas soa estranho.
Altos índices de suicídios, num lugar assim, são estranhos.
Lá mesmo existe agora um pequeno curso. Um curso quase prático de morte. Funcionários de empresas que possuem suicidas potenciais são encaminhados a esse curso.
Chegando lá são supostamente levados a se sentirem mortos. Vão a um estúdio fotográfico, tiram-se fotos em caixões, algo bem bizarro. Depois são levados aos caixões onde a tampa do mesmo é pregado. Eles ficam alguns minutos ali dentro... Mas isso acontece não antes de escreverem uma carta de discurso de sua suposta morte, ou vida...   Isso me fez pensar no que eu escreveria e no que você escreveria em seu discurso de morte...

Fugindo um pouco agora do programa (afinal, o programa em si dá sua intenção de audiência e explicação dentro do que ele mesmo predispõe a fazer) e entrando no que quero transmitir, é que, claro, ninguém está preparado pra morte, nunca.
Como hoje, escreveríamos essa carta na nossa suposta morte?

Num comercial, direcionado às mulheres, uma bonita mulher escreve uma carta a ela mesma, mas para que seja aberta no futuro. Através do produto (se não me falha a memória, era um produto de beleza) ela lê a carta, depois de anos, e percebe os votos de boa sorte que ela mesma no passado escreveu. Interessantíssimo o comercial.
Pensei a mesma coisa, um pouco diferente, mas sobre nossa morte.
Já pensaram como deve ser “legal” escrever um testamento? Com certeza, uma vez ou outra, já pensamos como seria escrever o nosso testamento (graças aos filmes que sempre mostram isso!).



No meu testamento, a primeira parte seria a cerca dos AGRADECIMENTOS. A quem agradeceria? Meu pai e minha mãe. Fundamentalmente, devo a eles a minha formação biológica, o espermatozóide e o óvulo, metades perfeitas da evolução.
Devo também a maior parte de minha formação moral a eles. Devo a eles boas lembranças da minha infância, devo o cuidado que tiveram comigo, devo o empenho de meu pai no seu trabalho por garantir “o ganha pão”, nosso sustento Devo a ele o simples exemplo que ele, inconscientemente, passou a mim.
Devo à minha mãe o tempo comigo, a atenção quase absoluta para comigo e meus irmãos. Devo a ela as orientações e o cuidado comigo.
Enfim, eu, no testamento, agradeceria em demasia aos meus pais por quase tudo que eu busquei ser.
A quem mais agradecer!? Poderia agradecer a cada pessoa que fez parte em algum momento da minha vida. Outros mais outros menos, mas não cabe aqui perder tempo com isso. Aqui ainda não é um testamento!
Um testamento haveria também uma parte onde se abriria o jogo, se “rasgaria o verbo” quanto aos desafetos, desamores, decepções, rancores, falsas amizades, falsas relações, enfim, um capítulo ingrato, mas, fundamental.
Imagino que muitas pessoas teriam muito a dizer àqueles pelas quais fomos passados para trás, por algum motivo, mas muitas vezes evitamos o confronto direto, o estresse do “ver novamente” e o “bater de frente” de novo.
Imaginem a oportunidade de expor por escrito, sem chance de direito de resposta, aquilo que sempre ficou internado em nós!!! Ter a possibilidade de falar o que se pensa, falar tudo que ficara entalado.
Sabe o que isso tudo significa!? Simplesmente uma coisa: Liberdade!
Toda essa história de testamento é a exteriorização do queríamos fazer, sem a responsabilidade de assumir o estresse, o desentendimento. E isso tem um nome... o nome disso!? Covardia!

Bom, posso até dizer que a morte, depois de constatar esse testamento e dentre outros significados, tem dois conceitos interessantes:
Liberdade e Covardia

Junte as palavras “liberdade” e “covardia” e obtenha o extrato básico, uma palavra que se contém no significado das duas outras... Fuga!
Fuga.
Consigo entender agora o porquê dos suicídios dos sul-coreanos e dos demais suicidas.
Não são perfeccionistas ao extremo. Mas covardes em demasia.
Simples.


Marcio H.