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sábado, 16 de julho de 2011

O Poder Da Solidão

Por Marcio H.

Sozinho.
Sozinho.
O quarto, o espelho, o guarda-roupas... a sala, a tv, o aparelho de som, o sofá...  a cozinha, a mesa, as cadeiras... as pessoas na rua e eu as observando...
E você sozinho(a).

Ao tomar banho você aumenta o volume da TV pra ouvir melhor as notícias do dia. 
Volta já felpudo, usando uma roupa íntima, o controle da TV, o controle da sua vida.

Muitos aos lidarem com essa cena, só de imaginar, já ficam mal. Sentem-se necessitados de uma companhia, uma distração, uma conversa, uma cobrança, de cobrar, falta de um corpo a andar pela casa, falta dos passos de outras pessoas, falta das vozes, falta...

A solidão nas canções de amor é tida como fonte de inspiração de compositores e poetas. A solidão é quase uma vilã, um prêmio mal fadado para aqueles que não se cuidaram e não cuidaram do amor. É como uma recompensa maldita.

Mas não é bem assim.

A solidão não pode ser vista como um reflexo de falta de cuidado ou de falta de plenitude em relações.
A solidão mostra, nos mostra.
Funciona como espelho, retrata a nós mesmos. Fique sozinho durante um tempo. Não digo um dia, nem dois, nem uma semana. Mas fique só em sua casa num período de um mês. Existe sim um leve desespero inicial, mas, depois disto o que vem é uma espécie de autoconhecimento. Uma espécie de encontro consigo mesmo.  
Trabalha-se, horário de almoço, a segunda parte do expediente, a volta pra casa... e a casa e você. Num relacionamento leal de você com você mesmo não se deve sair todos os dias em busca de se fugir de estar sozinho. Deixe.

É relaxante ouvir o silêncio. É engrandecedor poder ficar só e se fazer coisas simples no silêncio de sua respiração.
Perceba que é uma liberdade. Embora as novelas, as minisséries, as músicas, o padrão de família fale a você que este não é mais o certo, perceba que há uma coisa boa nisso. 

Tente.

Você engole suas necessidades e se conhece como ser único. Não dependente.
Conheço pessoas que não aceitam de forma nenhuma a ideia de se estarem sós. É uma espécie de necessidade louca de ter que ter alguém junto, sempre. Essas pessoas não se dão a real chance de se conhecerem. Elas criam uma espécie de simbiose cultural/social com outras pessoas, de maneira tal que só se reconhecem através dos outros. 

Essas pessoas só sabem como são ou o que fazem, através dos afetos e do reconhecimento de outras pessoas. Elas não dão tempo à própria mente de se conhecer melhor. Elas pensam que se conhecem, mas não. Elas conhecem sim o reflexo do que elas são nas outras pessoas.

Medo, ansiedade, tristeza. Tudo isso nos é passado como componentes auxiliares da solidão. Ou vem como brindes de solidão. Mas isso não é verdade.
O medo, a ansiedade e a tristeza já estão dentro daqueles que não agüentam ficar só. A solidão traz felicidade, a felicidade de existir, de ser você.
O silêncio faz com que você escute seus próprios pensamentos.



A sociabilidade em demasia nos transforma em robôs com fisionomias falsas que nem percebemos. Outro dia mesmo fui a um encontro de colegas. Homens e mulheres conversando. E minha pessoa só percebendo os jeitos, as falas, as movimentações das mãos, os risos, os comentários. Tudo muito articulado e não percebido.
Comentamos sobre a novela, nossas opiniões sobre política, nossas ideias intelectuais (que só servem pra mostrar o“quão” inteligentes somos e de como “sabemos” expressar nossas opiniões com vigor), tudo como forma de mostrar que somos capazes, que sabemos o que acontece.
Não vejo coisas boas na sociabilidade demasiada. Na verdade, sempre queremos mostrar que sabemos e que somos capazes. A maioria de nós gosta disso e por isso mesmo odeia a solidão.  A maioria de nós quer prevalecer ou não quer ser deixado pra trás, seja na família, entre os colegas de trabalho, entre amigos do clube, todos. É pra isso que serve a sociabilidade!?
Para poder mostrar aos outros que sou capaz? Falo isso pessoal porque sei que, mesmo que não percebamos, o objetivo nu e cru das relações humanas é este, demarcar território em prol da individualidade e, às vezes, em nome de um grupo. Mesmo que não percebamos, queremos sempre ser o melhor.
Ao mesmo tempo que buscamos aconchego em nossa família, temos medo de nos sentirmos perdidos. Mesmo com aconchego da mãe e do pai, talvez as únicas pessoas que achamos que nos são sinceros, sentimos quase uma obrigação de mostrar do que somos capazes. Mas não deve ser assim.

Não vou ser imbecil de escrever que toda companhia é ruim, não é. Existem pessoas que se assemelham, existem laços verdadeiros que unem, mas a maior parte de nossas relações são fúteis, desinteressantes, descartáveis, atrasadoras, perda de tempo, incompatíveis, mostras de paciência social.

Tenho plena certeza que você que me lê agora sabe que cerca de 80% dos seus conhecidos, do seu vizinho até sua mãe/pai ou até seu melhor amigo do mundo, destes muitos são altamente descartáveis.
Por que ter medo de ser só!? Pra quê a necessidade insondável de estar em uma roda de colegas, ou o medo de tirar um verdadeiro tempo pra você mesmo? (digo “verdadeiro tempo” porque me refiro a realmente ter esse tempo. Não só numa academia, ou numa caminhada, mas tempo mesmo, de qualidade a você mesmo).
Conheço pessoas que pensam estar tirando um tempo pra si. Mas nunca estão sozinhas.

O maior presente que você pode dar a você mesmo é um pouco de solidão. A desintoxicação social (termo que acabei de criar que significa dar um tempo a sociabilidade exacerbada que segue muitas pessoas) é um exercício de autoconhecimento e até cura interior que deve ser levada adiante em sua vida.

Ficar completamente só durante um tempo, o silêncio dos seus pensamentos, suas vontades nuas e cruas sem qualquer influência externa, deitar-se no chão repentinamente e olhar pro teto e pensar, poder não ouvir ninguém, nem se sentir envergonhado por alguma atitude qualquer que você quer tomar, a liberdade individual simples, o poder sair sozinho e pensar sem ter o compromisso de se encontrar com colegas, amigos, a conversa que se pode ter sozinho, andar nu na casa sem vergonha alguma... tudo isso são pequenas coisas boas, sensações maravilhosas e impensadas até então estão a sua espera. 

Eu substituo muitas relações pra ficar comigo mesmo.

Poucos sabem do que estou falando, mas se tiver oportunidade de estar realmente só, fique. Conheça a si mesmo. Sem influências. Procure viver mais sozinho. Tente se bastar de você mesmo. Passe noites sozinho, não saia sempre.

A antissociabilidade tem muitas vantagens. 
Nenhum homem é uma ilha, dizia o escritor. 
Para mim, todo homem é um continente único que se completa em si mesmo. Com seus desertos, suas florestas, suas montanhas, suas planícies, seus rios, seus lagos...


Sozinho.

Sozinho.

O quarto, o espelho, o guarda-roupas... a sala, a tv, o aparelho de som, o sofá...  a cozinha, a mesa, as cadeiras...  as pessoas na rua e eu as observando...

 Marcio H.

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